ÔÇ£Enquanto estiver em pá® o Coliseu, estaráí tambá®m em pá® RomaÔÇØ: assim sentenciava o filá│sofo Beda na Idade Má®dia, quando a á®poca de grande esplendor de Roma náúo era mais que uma lembranáºa. Mas se o decurso do tempo fez ruir o Impá®rio Romano, náúo derrubou, todavia, o Coliseu, que se ergue ainda hoje como testemunha para ná│s dos tempos passados de glá│ria de Roma. Conheáºa melhor a longa e conturbada histá│ria do monumento sá¡mbolo da Itáília em todo o mundo.

Vista do Coliseu em um dia ensolarado
Vista do Coliseu em um dia ensolarado. Foto: Viacheslav Lopatin / 123RF

O sá¡mbolo de uma nova era

Apá│s a morte do extravagante imperador Nero, que náúo havia deixado um herdeiro claro ao poder, o Impá®rio caiu em guerra civil. Apá│s um ano de lutas e atá® mesmo trá¬s imperadores assassinados, finalmente Fláívio Vespasiano conseguiu prevalecer e se tornar á║nico imperador. Abria-se um perá¡odo de paz e prosperidade em Roma, que Vespasiano quis simbolizar construindo um edifá¡cio suntuoso e destinado a toda a populaáºáúo: o maior anfiteatro que o mundo tinha visto atá® entáúo.

Busto de Vespasiano - Imperador do Impá®rio Romano.
Busto de Vespasiano – Imperador do Impá®rio Romano. Foto: Wikipedia (domá¡nio pá║blico)

O conceito de anfiteatro romano á® muito parecido com o das nossas arenas e estáídios esportivos: um edifá¡cio oval com amplas arquibancadas, capaz de acolher um grande ná║mero de pessoas, que vinham assistir a jogos e espetáículos. O Anfiteatro Fláívio (conhecido hoje como Coliseu), assim chamado justamente em homenagem ao imperador Fláívio Vespasiano, tinha as arquibancadas inteiramente em máírmore e conseguia abrigar atá® 75.000 visitantes ÔÇô dez mil a mais que o Estáídio do Morumbi em Sáúo Paulo!

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Coliseu visto de dentro
Coliseu visto de dentro: a arena central, onde aconteciam as lutas dos gladiadores, á® circundada pelas arquibancadas de todos os lados. Foto: Iakov Kalinin / 123RF
Interior do Coliseu em Roma.
Interior do Coliseu em Roma. Foto: Danflcreativo / Bigstock

Os espetáículos e a arena

Mas o tipo de espetáículo a que os Romanos assistiam no Coliseu á® muito diferente daqueles aos quais ná│s estamos habituados nos nossos estáídios. Na parte da manháú, assistia-se áás lutas de animais selvagens e exá│ticos, trazidos das partes mais remotas do Impá®rio: leáÁes, tigres, leopardos, rinocerontes, elefantes e ursos eram atiáºados a lutar ou uns contra os outros ou contra um lutador especializado, chamado bestiáírio. Os animais eram iáºados do subsolo atá® a arena por meio de sofisticados elevadores com contrapeso; outros engenhosos mecanismos eram usados para mudar a cenografia da arena ou produzir ÔÇ£efeitos especiaisÔÇØ, tornando a caáºa aos animais selvagens mais realá¡stica e espetacular.

Detalhe do subsolo da arena, onde seja os animais selvagens nas jaulas, seja os gladiadores nos corredores aguardavam o prá│prio turno
Detalhe do subsolo da arena, onde seja os animais selvagens nas jaulas, seja os gladiadores nos corredores aguardavam o prá│prio turno. Foto: Viacheslav Lopatin / 123RF.

Na pausa do almoáºo, que separava os espetáículos da manháú daqueles da tarde, ocorria a parte mais bruta da programaáºáúo: os criminosos condenados áá morte eram executados com requintes de crueldade na arena. Alguns eram lanáºados sem armas áá luta contra animais ferozes, outros eram pregados áá cruz em meio a animais famintos, para serem devorados. Geralmente o Imperador e as classes mais elevadas da sociedade abstinham-se de tanta violá¬ncia e aproveitavam a pausa para sair do Anfiteatro e almoáºar. Boa faixa da populaáºáúo, todavia, deleitava-se com a ferocidade: assim, ainda que muitos imperadores desaprovassem essa parte da programaáºáúo, todavia náúo a aboliram, por temor de desagradar ao povo.

Vista lateral do Coliseu num dia ensolarado.
Vista lateral do Coliseu num dia ensolarado. Foto: Viacheslav Lopatin / 123RF

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O show dos gladiadores

Enfim, no perá¡odo da tarde, ocorriam as exibiáºáÁes pelas quais o Coliseu á® mais famoso: o combate dos gladiadores. Ao contráírio do que normalmente se pensa, os gladiadores eram quase sempre lutadores profissionais, adestrados durante anos em escolas especializadas, e que lutavam em modo bastante esportivo: era extremamente raro que um gladiador perdesse a vida durante um combate. A luta dos gladiadores era muito amada pelos romanos e contava com iná║meros fáús dentre a populaáºáúo. Havia atá® mesmo torcidas organizadas, cuja competitividade áás vezes degenerava em episá│dios de violá¬ncia e atá® mesmo homicá¡dio: náúo muito diferente, portanto, do que ainda ocorre em alguns de nossos estáídios modernos.

Imagem de um dos corredores internos do Coliseu, que conduz áá arena central.
Imagem de um dos corredores internos do Coliseu, que conduz áá arena central. Foto: Bruno Spagnolo / 123RF
Parte interna do Coliseu em Roma
Parte interna do Coliseu em Roma. Foto: Don Fink / 123RF

Infelizmente o imperador Vespasiano morreu um ano antes do tá®rmino das obras e náúo pá┤de ver o edifá¡cio que patrocinou completado. Coube a seu filho e sucessor, o imperador Tito, inaugurar o Anfiteatro do pai, decretando 100 dias seguidos de jogos e celebraáºáúo. Estima-se que entáúo mais de 9 mil animais selvagens tenham sido trazidos áá arena e, segundo algumas fontes, foi simulada atá® mesmo uma batalha naval dentro do Coliseu alagando-o artificialmente para a ocasiáúo!

Turistas e passantes na Praáºa do Coliseu.
Turistas e passantes na Praáºa do Coliseu. Foto: Eplisterra / Bigstock

O sá¡mbolo de Roma

Apá│s a proibiáºáúo das lutas dos gladiadores por parte dos imperadores cristáúos, o edifá¡cio do Coliseu foi gradualmente posto de lado e esquecido pela populaáºáúo. Durante a Idade Má®dia era uma construáºáúo completamente abandonada, embora majestosa em meio áás humildes casas medievais. Ao longo dos sá®culos, muitos blocos de pedra foram retirados do Coliseu abandonado e utilizados como material de construáºáúo para outros edifá¡cios de Roma: a prá│pria Basá¡lica de Sáúo Pedro, no Vaticano, fez uso de blocos ÔÇ£roubadosÔÇØ ao Coliseu.

No entanto, apesar dos muitos danos sofridos, a grandiosidade e imponá¬ncia do Coliseu conseguiram resistir a seus dois mil anos de histá│ria e, ainda hoje, deixam estarrecidos aqueles que tentam abraáºáí-lo com seu olhar. Tinha razáúo o sáíbio medieval: ainda estáí em pá® o Coliseu, ainda Roma estáí em pá®.

Coliseu abraáºado pela cidade de Roma
Coliseu abraáºado pela cidade de Roma. Foto: R.Nagy / Bigstock

Por Yuri Borges Loyola
Foto de capa: Roman Sigaev / 123RF