O Gueto de Veneza á®, certamente, um dos lugares mais caracterá¡sticos e fascinantes da cidade. Um lugar pequeno, em que se respira uma atmosfera tranquila, e onde á® possá¡vel descobrir a histá│ria de sua comunidade judaica atravá®s dos prá®dios altos, das sinagogas, dos restaurantes, das lojas de artesanato.

Durante o Renascimento esse pequeno bairro era uma cidade dentro da cidade. Alá®m das casas e sinagogas, existia um teatro, um pequeno hospital, uma academia de má║sica e saláÁes literáírios, ao lado de pequenas lojas: do alfaiate áá taberna, do armazá®m de madeira áá padaria.

Conheáºa a histá│ria do gueto mais antigo do mundo: O Gueto de Veneza.

A origem da palavra gueto

O Gueto – palavra táúo difundida e utilizada em todas as lá¡nguas, deve a sua origem ao termo italiano ghetto – á® um bairro ou regiáúo de uma cidade onde vivem os membros de uma etnia ou qualquer outro grupo minoritáírio, normalmente por causa de injunáºáÁes ou circunstáóncias econá┤mica-sociais. Tristemente famoso á® o gueto de Varsá│via, onde, durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas confinaram os Judeus poloneses.

A palavra italiana ghetto, provavelmente deriva do verbo getar: o primeiro ná║cleo do bairro judeu em Veneza, de fato, era chamado Ilha do geto, pois ali existia uma fundiáºáúo de cobre que fabricava peáºas para a artilharia da cidade. Ghettare em veneziano significava ÔÇ£afinar o metal com a ghettaÔÇØ, ou seja, com o diá│xido de chumbo.

Devido ao fato de que a maior comunidade de judeus que chegou a Veneza, no iná¡cio do sá®culo XVI, era da Europa Central, e eles tinham dificuldade em pronunciar o ‘g’ (gie), por uma pequena questáúo de foná®tica a palavra geto se transformou em gheto.

Desde o sá®culo XIV essa regiáúo da cidade era dividida em duas partes: o Ghetto Vecchio e o Ghetto Nuovo.

Gueto (ghetto) Ebraico. Foto: Oleg Znamenskiy / 123RF.

O primeiro gueto do mundo

No comeáºo de 1.500, por consequá¬ncia da Guerra de Cambrai (um conflito marcado pelo combate de uma vasta coalizáúo, formada pelos principais estados europeus, contra a Repá║blica de Veneza) um ná║mero relevante de Judeus se abrigou em Veneza, levantando as preocupaáºáÁes dos Cristáúos. Em 29 de maráºo de 1516, o Senado da Repá║blica decretou que os Hebreus presentes na ilha tivessem que residir na regiáúo chamada de Ghetto Nuovo. Nasceu, desta forma, o primeiro gueto do mundo.

O Ghetto Nuovo era e á® ainda hoje uma ilha áá qual se acede somente por duas pontes. Na entrada das mesmas foram postos dois portáÁes de ferro, que eram fechados e vigiados durante a noite: os Judeus podiam sair de láí somente durante o dia, desde que tivessem um sinal de identificaáºáúo.

Cannaregio, Gueto Hebraico de Veneza.
Cannaregio, Gueto Hebraico de Veneza. Foto: znm / 123RF.

Devido ao crescimento demográífico da comunidade hebraica (mais de
4000), os moradores tiveram que recorrer áá expansáúo vertical, e á® por isso que o gueto á® a á║nica á®rea de Veneza que tem edifá¡cios altos, que chegam a atá® oito andares. Apesar disso, foi em todo caso necessáírio, ao longo dos sá®culos, ampliar a regiáúo, anexando o Ghetto Vecchio e criando o Ghetto Novissimo.

Vista do gueto de Veneza. Edifá¡cios com muitos andares e tetos baixos.
Vista do gueto de Veneza. Edifá¡cios com muitos andares e tetos baixos. Foto: irisphoto3 / Bigstock

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Gueto de Veneza. Foto: Alessandro Cristiano / 123RF

Tradicionalmente os Judeus venezianos praticavam a agiotagem, da qual nos restam iná║meros testemunhos literáírios e epistolares: ir ao gueto para fazer um emprá®stimo ou resgatar objetos penhorados era usual entre os moradores de Veneza. Essa atividade inclusive á® testemunhada pela belá¡ssima peáºa teatral de William Shakespeare, o ÔÇ£Mercador de VenezaÔÇØ (apresentada pela primeira vez em 1605).

Com a queda da Repá║blica de Veneza (1797) e a conquista por parte de Napoleáúo, as discriminaáºáÁes para com os Hebreus cessaram, os portáÁes de gueto foram removidos e os Judeus vieram a ser equiparados a todos os demais cidadáúos.

Antigo gueto judeu, Cannaregio - Veneza.
Antigo gueto judeu, Cannaregio – Veneza. Foto: goga18128 / Bigstock

O que visitar no Gueto de Veneza

Em relaáºáúo áá apará¬ncia externa, o gueto náúo se distingue muito do resto de Veneza. A á║nica coisa que o diferencia sáúo as casas muito altas e estreitas. Logo na entrada do gueto, ao lado esquerdo tem uma placa em máírmore que lista as puniáºáÁes para aqueles judeus que, mesmo que se converteram ao cristianismo, continuaram a praticar rituais judaicos.

Gueto de Veneza. Foto: Alexandre Rotenberg / 123RF

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Museu Hebraico

O bairro Ghetto faz parte do ÔÇ£sestiereÔÇØ de Cannaregio, prá│ximo áá estaáºáúo ferroviáíria, e á® pouco frequentado pelos turistas. De fato, náúo faz parte dos roteiros turá¡sticos convencionais, mas a atmosfera charmosa e a inconfundá¡vel fisionomia da regiáúo, com vielas e pracinhas rodeadas por edifá¡cios altos e decadentes, faz do gueto um lugar imperdá¡vel.

O notáível Museu Hebraico abriga alguns objetos interessantes, manuscritos e documentos da cidade judaica de Veneza. Aqui á® possá¡vel reservar uma visita guiada ao cemitá®rio judeu no Lido.

Itáília Sonhada

As sinagogas

No sá®culo XVI foram erguidas váírias sinagogas, uma por cada nacionalidade: a Schola Grande Tedesca, a Schola Canton (ritual ashkenazita), a Schola Levantina, a Schola Spagnola e a Schola Italiana. Em 1719 o ná║mero desses edifá¡cios de cultos, que constituem um complexo arquitetá┤nico de enorme interesse, chegou a sete.

Hoje em dia o gueto á® muito bem conservado (sem dá║vida, o melhor conservado da Europa), embora a comunidade judaica conte apenas com poucas centenas de pessoas. Existem ainda cinco sinagogas, das quais duas continuam funcionando regularmente, e os demais edifá¡cios da comunidade ainda hoje tá¬m funáºáÁes institucionais.

As sinagogas sáúo a alma do gueto. Estando no topo dos edifá¡cios pre-existentes, dificilmente sáúo reconhecidas do lado de fora, enquanto na parte interna elas guardam pequenas joias.

Fachada da Grande Scuola Tedesca em Veneza.
Fachada da Scuola Grande Tedesca em Veneza. Foto: Didier Descouens – Own work, CC BY-SA 4.0 / Commons Wikimedia

No Gueto háí tambá®m váírios restaurantes em que á® possá¡vel experimentar a culináíria judaica veneziana, uma cativante sá¡ntese entre a culináíria dos Hebreus Ashkenaziti, de procedá¬ncia alemáú, e a dos Sefarditas, origináírios do Sul da Franáºa e da Espanha. O prato mais representativo sáúo as ÔÇ£Sarde in saorÔÇØ: sardinhas agridoces.

Longe da multidáúo dos turistas que em todos os perá¡odos do ano invadem Veneza, o Gheto á® um lugar máígico, que cativa pelo seu misterioso silá¬ncio. Náúo deixe de visitáí-lo!

Entrada para um antigo beco no ghetto novissimo. Foto: Alexandre Rotenberg / 123RF

Por Alessandra Amaral
Foto de capa: Oleg Znamenskiy / 123RF