Mesmo passados dois milá¬nios, a tráígica histá│ria de Pompeia continua a despertar o nosso assombro e curiosidade. Talvez porque poucas vezes na Histá│ria uma inteira cidade foi suprimida de modo táúo repentino e assustador; ou entáúo porque uma tragá®dia deploráível como essa nos abriu, todavia, uma rara janela da qual observar o mundo antigo que tanto nos fascina.

Conheáºa melhor o que aconteceu no fatá¡dico dia 24 de outubro de 79 d.C., o á║ltimo da cidade de Pompeia.

Rua de Pompeia
Rua de Pompeia, uma das tantas pela qual se pode andar para conhecer a cidade antiga que foi soterrada pelas cinzas do Vesá║vio. Foto: katatonia82 / Bigstock

A erupáºáúo do Vesá║vio que devastou Pompeia

Parecia ser uma tarde ensolarada como outra qualquer, ao litoral da Campáónia. Por volta do meio-dia muitos Romanos, como de costume, comiam algo leve, devido ao calor, enquanto descansavam protegidos do sol, ainda quente, de outubro. Comeáºa a despontar, porá®m, algo de estranho e curioso ao longe, sobre os montes: uma nuvem de forma e dimensáúo inusitadas, que por enquanto provoca mais admiraáºáúo do que preocupaáºáúo nos Romanos que a veem.

Vesá║vio visto de Pompeia
Vesá║vio visto de Pompeia a cidade se encontra ao pá® do vulcáúo. Foto: Alex Popov / 123rf

Tamanha admiraáºáúo náúo se devia somente áá grandeza da nuvem que comeáºava a ser expelida, mas sobretudo ao fato de que os Romanos, atá® entáúo, ignoravam completamente que o Vesá║vio fosse um vulcáúo: todos o tomavam por uma simples montanha, visto que a á║ltima grande erupáºáúo havia acontecido milhares de anos antes, quando os povos latinos sequer habitavam a Itáília. A erupáºáúo pegou os Romanos completamente desprevenidos.

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Diante de um fená┤meno sem precedentes, para descrever a forma daquela nuvem imensa alguns recorreram a uma metáífora tirada da natureza quotidiana: assim como ná│s descrevemos a forma tá¡pica da explosáúo de uma bomba atá┤mica como ÔÇ£cogumeloÔÇØ, alguns Romanos compararam o aspecto da nuvem ao pinheiro marinho: áírvore tá¡pica do litoral mediterráóneo, do tronco longo e com ramos que se expandem sá│ no alto, bem servia para descrever a massa colossal de fumaáºa e cinzas que o Vesá║vio comeáºava a lanáºar no cá®u.

Pinheiro marinho (pino marittima), tá¡pico do litoral italiano: sua forma foi a metáífora melhor para descrever o cogumelo de fumaáºa causado pela explosáúo vulcáónica. Foto: Jakobradlgruber / 123rf

Mas o cenáírio era completamente diferente para quem habitava em Pompeia, aos pá®s do Vesá║vio. Choviam do cá®u, com velocidade sempre maior, flocos de cinza quentes e espessos, bem como fragmentos de pedra-pomes. Olhando para o Vesá║vio viam-se labaredas enormes e a encosta da montanha que pegava fogo de fora a fora. A esta altura, o tempo para escapar do desastre era pouco.

áÜltimo dia de Pompeia de Karl Brjullov (1799-1852). Museu Russo de San Pietroburgo.
O artista, que trabalhou nesta pintura de 1830 a 1833, baseou-se, respeitando cada detalhe, na descriáºáúo da catáístrofe deixada por Plá¡nio o Jovem, historiador romano que foi testemunha ocular do tráígico acontecimento. Foto: Commons Wikimedia

Muitos moradores de Pompeia, no desespero do momento, tomaram uma decisáúo que entáúo parecia sensata: trancaram-se dentro de casa, embaixo do teto, para se proteger das cinzas quentes e das lascas de pedra que caá¡am do cá®u. Mas tal decisáúo se revelou fatal: a quantidade de material vulcáónico que o Vesá║vio lanáºava era tanta que, em apenas 5 horas, a cidade jáí estava coberta por um metro de cinzas.

O peso acumulado sobre o teto das casas era muito: e de fato a maior parte da populaáºáúo vá¡tima da erupáºáúo morreu sob o desabamento da prá│pria casa. Muitos, num certo ponto, se deram conta do perigo, mas era tarde demais: Pompeia jáí estava embaixo de dois metros de cinzas ÔÇô ááquela altura era praticamente impossá¡vel abrir as portas das casas. Os poucos que conseguiram, foram de encontro áá asfixia, devido áá fumaáºa espessa que envolvia toda a cidade.

Fá│rum de Pompeia com o Vesá║vio ao fundo. Por Heinz-Josef Lá╝cking, CC BY-SA 3.0

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Templo de Já║piter em Pompeia
Templo de Já║piter em Pompeia. Foto: Alex / Flickr

Pompeia, uma cidade sepultada

Apá│s quatro dias de erupáºáúo ininterrupta, Pompeia jazia embaixo das cinzas, sepultada por um estrato de 6 metros de altura. Emergiam, aqui e ali, somente o topo dos edifá¡cios mais altos e de algumas colunas ÔÇô a cidade tinha sido completamente enterrada com seus habitantes.

As escavaáºáÁes dos arqueá│logos nos revelaram os á║ltimos momentos de alguns dos moradores de Pompeia, preservados pela aridez das cinzas: uma máúe que escapa com a filha, cuja cabeáºa protege com um travesseiro; um casal de esposos, de máúos dadas; um sacerdote que tenta salvar o tesouro do prá│prio templo; um cachorro que náúo consegue se soltar da coleira.

Ruá¡nas de Pompeia.
Foto: Riccardo Ravelli / Flickr
Foto: Ralph Bukiewicz / Flickr

Pompeia, um milagre arqueolá│gico

O desastre inesperado impressionou toda uma geraáºáúo de Romanos e, passado o pior, náúo se quis nem mesmo reconstruir a cidade. Pompeia continuou sepultada por anos e anos atá® que, enfim, desta se perdeu completamente a memá│ria. Somente em 1748 comeáºaram as primeiras escavaáºáÁes dos arqueá│logos, que continuam atá® hoje, visto que alguns bairros da cidade ainda estáúo completamente embaixo da terra.

Jardim dos Fugitivos
Jardim dos Fugitivos, com os moldes em gesso das vá¡timas do Vesá║vio. Por Lancevortex – Obra do prá│prio, CC BY-SA 3.0

Esse triste desastre possibilitou, todavia, um verdadeiro milagre arqueolá│gico, isto á®, que uma inteira cidade do mundo antigo chegasse atá® ná│s quase inteiramente preservada.

Graáºas áá Pompá®ia pudemos conhecer muito melhor a arte antiga, visto que as casas mais luxuosas da elite romana eram decoradas por muitas pinturas e estáítuas, que hoje se encontram no Museu Nacional de Náípoles; graáºas aos grafites sobre os muros das casas, pudemos aprender mais sobre a lá¡ngua, o cotidiano, os hobbies e atá® mesmo sobre as eleiáºáÁes na Roma Antiga ÔÇô á® realmente difá¡cil estimar quanto a redescoberta de Pompeia tenha contribuá¡do no avanáºo dos estudos sobre a Antiguidade.

Ainda hoje, Pompeia nos provoca esta sensaáºáúo á║nica, acrescida pela presenáºa do Vesá║vio ao horizonte, de que saá¡mos do nosso mundo e entramos, mesmo que por um instante, em uma á®poca diferente.

Sá¡tio arqueolá│gico de Pompeia
Sá¡tio arqueolá│gico de Pompeia. Foto: Wies┼éaw Jarek / 123RF

Por Yuri Borges Loyola
Foto de capa: Por ElfQrin – Obra do prá│prio, CC BY-SA 4.0 / Commons Wikimedia (domá¡nio pá║blico)