Mais que por seus belos edifá¡cios e fascinante Carnaval, Veneza á® conhecida em todo o mundo principalmente pelos seus canais percorridos por gá┤ndolas e pela mará® alta, que com frequá¬ncia toma as praáºas e ruas da cidade. Ao longo dos sá®culos sua populaáºáúo teve que se adaptar com criatividade áá presenáºa invasiva da áígua: conheáºa um pouco a histá│ria dessa relaáºáúo, náúo sempre fáícil, entre Veneza e o mar.

Piazza San Marco
Piazza San Marco – Veneza. Foto: Scaliger / Bigstock

Veneza, um pouco de histá│ria de sua relaáºáúo com as áíguas

Antes de tudo, Veneza á® desde sempre uma cidade em constante transformaáºáúo. Na Idade Má®dia, por exemplo, sua fisionomia era bem diferente daquela que vemos hoje. Quando a populaáºáúo da regiáúo, para escapar dos ataques de povos invasores, decidiu se refugiar áás margens do Canal Grande e fundar aquilo que viria a ser Veneza, o ná¡vel da áígua náúo era táúo alto como hoje em dia. Naquela á®poca a mará® náúo atingia ainda os edifá¡cios e havia pequenas praias áás margens do rio, onde os Venezianos organizavam feiras e podiam praticar o comá®rcio.

Gá┤ndola com turistas
Gá┤ndola com turistas e a famosa ponte de Rialto em segundo plano sobre o Canal Grande, ná║cleo origináírio de Veneza. Foto: Aleksandrs Kosarevs / 123RF.

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Mas com o passar do tempo o ná¡vel da áígua na laguna foi subindo e subindo, submergindo aos poucos as praias e margens dos rios e ameaáºando invadir atá® mesmo as casas. No entanto, o povo de Veneza, que vivia em simbiose háí sá®culos com as áíguas, ao invá®s de fundar um novo ná║cleo mais seguro nas proximidades, decidiu se adequar com criatividade áá presenáºa do mar. E assim aos poucos surgia a Veneza que conhecemos hoje, uma inteira cidade sobre as áíguas.

Gá┤ndola navega em um pequeno canal
Gá┤ndola navega em um pequeno canal que separa duas ilhas da cidade, ligadas por uma ponte. Foto: Mihai Andritoiu / 123RF.
Itáília Sonhada

A reconstruáºáúo de Veneza

A reconstruáºáúo da cidade seguiu um má®todo de certa forma simples. Primeiramente, fincavam-se em profundidade no terreno enormes estacas de madeira que afundavam completamente sob a lama, uma do lado da outra, formando uma espá®cie de paliáºada embaixo dÔÇÖáígua. A madeira, embora enfiada no lodo da laguna, náúo apodrece, pois a falta de oxigá¬nio impede a proliferaáºáúo de bactá®rias. Alá®m disso, a áígua salgada e lamacenta do mar preenche as brechas da madeira, tornando-a assim com o tempo ainda mais robusta e resistente.

Vista do famoso Canal Grande
Vista do famoso Canal Grande: hoje em dia náúo háí mais praias ou margens, completamente engolidas pela laguna. Foto: Jakobradlgruber / 123RF.

Em seguida, sobre essa paliáºada subaquáítica eram entrelaáºados horizontalmente longos postes de madeira, que deviam servir de apoio áá base em pedra das casas. Formava-se assim sobre a paliáºada uma espá®cie de jangada de madeira gigante, sobre a qual em seguida se erguiam os edifá¡cios. áë como se, de certa forma, toda a cidade de Veneza boiasse sobre enormes jangadas de madeira escondidas embaixo dÔÇÖáígua!

Canal pitoresco de Veneza com ponte.
Canal pitoresco de Veneza com ponte. Note como a base dos edifá¡cios á® em pedra; essa se apoia sobre uma camada de madeira escondida embaixo dÔÇÖáígua. Foto: Sborisov / 123RF.

Finalmente, sobre essa camada subaquáítica de madeira era apoiada a base em pedra dos edifá¡cios. Para tal, os venezianos escolheram a Pedra de áìstria, um tipo de pedra compacto e impermeáível que náúo absorve a áígua do mar, a qual banha constantemente a parte baixa das casas da cidade. Em cima dessa fundaáºáúo em pedra, enfim, eram construá¡das as casas e os edifá¡cios. Essa forma de edificar foi táúo eficaz que os alicerces de madeira de Veneza, embora tenham mais de 500 anos, ainda hoje náúo demonstram fraqueza ou sinal de desgaste!

Famosa Ponte dos Sospiros
Famosa Ponte dos Sospiros, construá¡da inteiramente em Pedra de áìstria, que ligava o Palazzo Ducale ao antigo cáírcere da cidade. Foto: Sergey Belov / 123RF.

Veneza e o fená┤meno acqua alta

Mas a histá│ria náúo termina aqui, pelo contráírio. O ná¡vel da áígua desde entáúo continua a subir: pouco a pouco, mas incessantemente todos anos. Visto que os alicerces jáí estáúo postos e os edifá¡cios construá¡dos, por enquanto háí pouco o que se fazer alá®m de se habituar áá intrusáúo das áíguas. Principalmente no outono e na primavera á® comum, por causa dos ventos, que a mará® suba, alagando muitas partes da cidade: á® o fená┤meno da acqua alta, que diverte os turistas e ao qual os venezianos estáúo mais do que acostumados. Em dias como estes a prefeitura coloca plataformas elevadas pelas ruas de Veneza, criando uma espá®cie de passarela que permite áás pessoas caminhar pela cidade. Jáí os venezianos muitas vezes, habituados como sáúo áá acqua alta, simplesmente vestem suas longas galochas e enfrentam a áígua para evitar as tumultuadas passarelas.

Piazza San Marco, Veneza com áígua alta.
Praáºa San Marco com acqua alta: alguns turistas se movem sobre as passarelas para evitar a áígua, enquanto outros pisam no cháúo com suas galochas. Foto: ChiccoDodiFC / Bigstock

Mas os desafios para o futuro que aguardam Veneza e os venezianos náúo sáúo poucos. A expectativa á® que o ná¡vel da áígua continue a subir incessantemente, talvez atá® mesmo de um metro nos prá│ximos cem anos, o que exigiria uma re-elaboraáºáúo total da urbaná¡stica da cidade. Alguns acreditam que seráí necessáírio barrar a entrada da áígua durante as mará®s altas; outros, mais dráísticos, especulam que seráí preciso isolar completamente a cidade do mar, caso contráírio essa poderáí ser submersa pela laguna. Ná│s, que somos mais otimistas, acreditamos que, quaisquer que sejam as condiáºáÁes no futuro, o povo de Veneza, criativo e engenhoso na sua longa relaáºáúo com o mar, saberáí dar conta mais uma vez de manter viva, bela e ditosa a extraordináíria cidade que herdaram de seus antepassados.

Gondoleiro transporta turistas pelo Canal Grande num dia ensolarado.
Gondoleiro transporta turistas pelo Canal Grande num dia ensolarado. Foto: Zqmai / 123RF.
Itáília Sonhada

Por Yuri Borges Loyola
Foto de capa: Viacheslav Lopatin / 123RF