
Mais que por seus belos edifá¡cios e fascinante Carnaval, Veneza á® conhecida em todo o mundo principalmente pelos seus canais percorridos por gá┤ndolas e pela mará® alta, que com frequá¬ncia toma as praáºas e ruas da cidade. Ao longo dos sá®culos sua populaáºáúo teve que se adaptar com criatividade áá presenáºa invasiva da áígua: conheáºa um pouco a histá│ria dessa relaáºáúo, náúo sempre fáícil, entre Veneza e o mar.

Veneza, um pouco de histá│ria de sua relaáºáúo com as áíguas
Antes de tudo, Veneza á® desde sempre uma cidade em constante transformaáºáúo. Na Idade Má®dia, por exemplo, sua fisionomia era bem diferente daquela que vemos hoje. Quando a populaáºáúo da regiáúo, para escapar dos ataques de povos invasores, decidiu se refugiar áás margens do Canal Grande e fundar aquilo que viria a ser Veneza, o ná¡vel da áígua náúo era táúo alto como hoje em dia. Naquela á®poca a mará® náúo atingia ainda os edifá¡cios e havia pequenas praias áás margens do rio, onde os Venezianos organizavam feiras e podiam praticar o comá®rcio.

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Mas com o passar do tempo o ná¡vel da áígua na laguna foi subindo e subindo, submergindo aos poucos as praias e margens dos rios e ameaáºando invadir atá® mesmo as casas. No entanto, o povo de Veneza, que vivia em simbiose háí sá®culos com as áíguas, ao invá®s de fundar um novo ná║cleo mais seguro nas proximidades, decidiu se adequar com criatividade áá presenáºa do mar. E assim aos poucos surgia a Veneza que conhecemos hoje, uma inteira cidade sobre as áíguas.


A reconstruáºáúo de Veneza
A reconstruáºáúo da cidade seguiu um má®todo de certa forma simples. Primeiramente, fincavam-se em profundidade no terreno enormes estacas de madeira que afundavam completamente sob a lama, uma do lado da outra, formando uma espá®cie de paliáºada embaixo dÔÇÖáígua. A madeira, embora enfiada no lodo da laguna, náúo apodrece, pois a falta de oxigá¬nio impede a proliferaáºáúo de bactá®rias. Alá®m disso, a áígua salgada e lamacenta do mar preenche as brechas da madeira, tornando-a assim com o tempo ainda mais robusta e resistente.

Em seguida, sobre essa paliáºada subaquáítica eram entrelaáºados horizontalmente longos postes de madeira, que deviam servir de apoio áá base em pedra das casas. Formava-se assim sobre a paliáºada uma espá®cie de jangada de madeira gigante, sobre a qual em seguida se erguiam os edifá¡cios. áë como se, de certa forma, toda a cidade de Veneza boiasse sobre enormes jangadas de madeira escondidas embaixo dÔÇÖáígua!

Finalmente, sobre essa camada subaquáítica de madeira era apoiada a base em pedra dos edifá¡cios. Para tal, os venezianos escolheram a Pedra de áìstria, um tipo de pedra compacto e impermeáível que náúo absorve a áígua do mar, a qual banha constantemente a parte baixa das casas da cidade. Em cima dessa fundaáºáúo em pedra, enfim, eram construá¡das as casas e os edifá¡cios. Essa forma de edificar foi táúo eficaz que os alicerces de madeira de Veneza, embora tenham mais de 500 anos, ainda hoje náúo demonstram fraqueza ou sinal de desgaste!

Veneza e o fená┤meno acqua alta
Mas a histá│ria náúo termina aqui, pelo contráírio. O ná¡vel da áígua desde entáúo continua a subir: pouco a pouco, mas incessantemente todos anos. Visto que os alicerces jáí estáúo postos e os edifá¡cios construá¡dos, por enquanto háí pouco o que se fazer alá®m de se habituar áá intrusáúo das áíguas. Principalmente no outono e na primavera á® comum, por causa dos ventos, que a mará® suba, alagando muitas partes da cidade: á® o fená┤meno da acqua alta, que diverte os turistas e ao qual os venezianos estáúo mais do que acostumados. Em dias como estes a prefeitura coloca plataformas elevadas pelas ruas de Veneza, criando uma espá®cie de passarela que permite áás pessoas caminhar pela cidade. Jáí os venezianos muitas vezes, habituados como sáúo áá acqua alta, simplesmente vestem suas longas galochas e enfrentam a áígua para evitar as tumultuadas passarelas.

Mas os desafios para o futuro que aguardam Veneza e os venezianos náúo sáúo poucos. A expectativa á® que o ná¡vel da áígua continue a subir incessantemente, talvez atá® mesmo de um metro nos prá│ximos cem anos, o que exigiria uma re-elaboraáºáúo total da urbaná¡stica da cidade. Alguns acreditam que seráí necessáírio barrar a entrada da áígua durante as mará®s altas; outros, mais dráísticos, especulam que seráí preciso isolar completamente a cidade do mar, caso contráírio essa poderáí ser submersa pela laguna. Ná│s, que somos mais otimistas, acreditamos que, quaisquer que sejam as condiáºáÁes no futuro, o povo de Veneza, criativo e engenhoso na sua longa relaáºáúo com o mar, saberáí dar conta mais uma vez de manter viva, bela e ditosa a extraordináíria cidade que herdaram de seus antepassados.


Por Yuri Borges Loyola
Foto de capa: Viacheslav Lopatin / 123RF